segunda-feira, 30 de julho de 2007

De quando acordei chorando

Tudo pareceu real. A dor no peito era real. A angústia era real. Não sei como. Só sei que acordei chorando.

Foi numa dessas viagens recheadas de risadas incessantes, palavras descontraídas e músicas alegres. Fugimos da realidade. Refugiamo-nos em Gramado. Eu e as amigas. Tudo era felicidade. Mas acordei chorando.

Dormi bem. A cama quentinha compensava o frio serrano. Os sonhos foram bons. Mas um me fez acordar chorando.

Sonhei que uma amiga (a das risadas, palavras e músicas) tinha me abandonado. Que me deixara sozinha não sei por que, não sei onde. Mas me abandonou e me deixou chorando. No sonho e no quarto.

Quando acordei, ela estava ali. Ali ao meu lado, tal como havia deixado. Senti alívio. E pensei nos sonhos. Poderosos sonhos. Desses que nos fazem acordar gritando, suando... ou chorando.

Alguns dizem que os sonhos são uma junção do que vivemos. Outras, uma idéia do que viveremos. Eu prefiro que não seja nenhum dos dois. Que minha amiga não me abandone. E que eu não mais acorde chorando.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Hogar, dulce hogar - Homenaje a una ciudad

Um país hermano. Uma história em comum. Idiomas e culturas semelhantes. Também há gauchos y a las personas les gusta el mate. Ouve-se música brasileira da melhor qualidade. Há tudo o que me fascina em minha cidade. E algo mais.

Por alguns dias, troquei os rostos melancólicos de minha fria cidade por ‘¡Buenos días!’ e ‘¡Holas!’ da ciudad fría. Me alegrava a visão das melhores panaderias, existentes em todas as esquinas. Comia medialunas, alfajores (los mejores!), muzarelas e fainás, que só lá existem.

Durante as noites de inverno, minha cidade pareceu-me fantasma ao caminhar a passos lentos no centro da ciudad. Personas caminham com seus mates e botellas com água caliente. Há sorrisos ao zero grau noturno dessa ciudad.

É inspiradora. De noite, as luzes fazem de suas muitas praças e sua arquitetura ainda mais belas. Sob a luz do sol, ou mesmo sob a chuva (que também é mais bela na ciudad) os plátanos secos nessa época do ano são monumentos complementares às lindas obras humanas. Os outdoors são raros. As ruas têm uma mão e os motoristas sabem o significado das faixas de pedestre. As avenidas são grandes. Tudo é muito grande. Complexo de país pequeno.

Também os sons da ciudad são mais agradáveis. As palavras hispanas têm musicalidade e mesmo os palavrões parecem elogios. Caminha-se pelas calles. Lêem-se periódicos e vêem-se películas. Comem-se duraznos, lechugas e zapallos. A lluvia cai sobre o paráguas (palavra preciosa!). O rojo não é roxo, mas vermelho. E tudo são cores mesmo num dia gris.

A ciudad tem aroma de infância e sabor de déjá vu. Os quioscos vendem caramelos que já não existem na minha cidade. As crianças se vestem como crianças e as jovens como jovens (embora os cabelos e as roupas sejam iguais). Os chicos são muy guapos. Mais guapos ainda quando proferem as lindas palavras vindas de Castilla. Os niños são obrigados a ir à escola (pública!) e usam graciosos uniformes.

Queria passar o resto de meus dias na ciudad, onde a palavra ‘peligro’ é pouco pronunciada. Onde há pessoas nas noites frias. Onde se come muy bien. Onde as casas preservam uma história e tudo é traduzido para a língua-mãe.

Senti-me bienvenida, como en mi casa.

Amo meu porto alegre. E agora, amo Montevideo.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Do paradoxo estendido na areia

Alguns pensamentos realmente me perturbam quando a cabeça enfim encontra-se com o travesseiro. Como qualquer ser humano, mesmo o mais altruísta, problemas pessoais assolam meu cérebro. A imaginação viaja a mundos só meus. Mundos egoístas. Mas, por vezes (e queria que fossem mais vezes), uma pontinha de angústia me machuca o peito. Penso que deveria ponderar sobre problemas comuns, e não só meus. Mas logo a sensação de incapacidade é mais forte. Volto ao pensamento egoísta. Sinto-me culpada.

Dos pensamentos que queria mais incômodos, e que resultassem em alguma mudança nos meus atos, é a tamanha diferença entre as pessoas. Entre seres de uma mesma raça. Longe de mim querer que o mundo seja padronizado. Queria que os pensamentos fossem padronizados, distribuídos em igual conta. Que todos tivessem direito a pensamentos tão egoístas e frívolos como os meus.

Fico perplexa – decepcionada, diria – como pessoas podem se preocupar tanto com a potência de seus carros ou com a cor de seus cabelos, ao passo que a maior preocupação de outras é sobreviver. Julgamo-nos com direito de viver nossos pensamentos privados ao passo que outros vivem privados de bons pensamentos.

Umas vivem no carnaval; outras, na fome total. Diria Herbert e Gil. E as carnavalescas não sentem culpa. Mundo tão desigual.


Um desabafo.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

‘Para pessoas baixas’

Detesto salto alto. No duplo sentido da expressão. Saltos altos machucam o pé. E a alma. “Salto alto são para pessoas baixas. Pessoas altas não precisam de salto alto”, disse Juremir Machado da Silva em reportagem da Record. Genial, caro mestre.

De fato, pessoas altas já sustentam em si altura suficiente. Não precisam subir no salto para serem maiores. Sabem permanecer no mesmo nível de outrem. Pessoas baixas sobem no salto por vezes muito alto. E, sem saber equilibrar-se nele, caem. Caem feio.

Penso na humildade como a maior das virtudes humanas. Traz como companhia o respeito, a sabedoria. Sabedoria de quem tem ciência de que não sabe tudo, que tem muito a aprender. Sabedoria de quem sabe que mais vale olhar pra frente do que pra baixo.

Prefiro ser pé-de-chinelo. Pelo menos permaneço em pé... no duplo sentido.

terça-feira, 10 de julho de 2007

O Melhor da Festa

Amamos trailers. Todos nós. Trailers são aquele tipo de coisa das quais duvido que alguém não goste. Como pizza. Ou Havaianas. Todo mundo gosta (ou usa). Depois do início da sessão, poderíamos tranqüilamente chegar uns dez minutos atrasados. O filme só começa após os agora comuns comerciais e eles, os trailers. Mas não! Corremos para a sala de cinema para saborear o doce gostinho de saber antes o que nos espera daqui a umas semanas. Daqui a umas semanas, então, veremos o filme cujo trailer nos fascinou. E nos decepcionaremos.

Por que os trailers são melhores que os filmes? Eis a pergunta que me perturba em todos os “dez minutos antes”. Cheguei a algumas conclusões. A seqüência de cenas no trailer é mais bonita. A charmosa e simpática voz do narrador só existe no trailer. Os melhores ângulos do Johnny Depp estão no trailer (ops!). E o mais importante: a música sempre emocionante da bela seqüência só toca no trailer. Lembro de quando vi o do Peter Pan (adoro o Peter Pan!). Não sosseguei até ver a produção na íntegra e ouvir Clocks, do Coldplay. Esperei, esperei. Nada de Clocks. Gostei do filme. Amei o trailer.

Inteligentes foram os produtores dos Simpsons. Revelaram que o longa não tem nada a ver com o trailer. Produziram cenas exclusivamente para o trailer? Sim, produziram. Bem mais atraente.

Não deveríamos ver trailers. Trailers estragam qualquer filme, por melhor que seja. As melhores cenas do filme estão no trailer. E pior. As melhores cenas de um filme são sempre melhores no trailer que no filme. Não digo que nunca gostaremos de um filme cujo trailer já vimos. Mas poderiam ser melhores. Outra solução: proponho que vejamos só trailers.

*Quantas vezes repeti a palavra “trailer”?

sábado, 7 de julho de 2007

O Ponto Final

Penso constantemente a respeito da vida e suas razões. Queremos viver eternamente. Eu quero viver eternamente. Digo essa vida, nesse plano. Porque acredito no princípio espírita de outras vidas. Um ciclo finalizado apenas após alcançarmos a total evolução da alma. Por isso não creio que morrer (ou partir para outro estágio da alma) seja ruim. Ruim é perder alguém. Quando quem amamos parte para o outro estágio sem nos levar consigo.

O que faríamos para não perder quem amamos? Até onde iríamos para descobrir o elixir da longa vida e tardar perdas dolorosas? Se pudéssemos, se soubéssemos como, estou certa de que transporíamos todos os obstáculos para prolongar uma vida. Talvez faze-la eterna. Materializar o sonho de todas as pessoas que já sofreram pela morte. Ou seja, todas as pessoas.

Por que morremos? Talvez uma questão tão pertinente quanto por que vivemos?. Quem nunca refletiu sobre as razões da morte talvez não tenha pensado nas razões da vida. Talvez não tenha encontrado um sentido para a própria existência. Mas jamais compreenderemos ou aceitaremos que esta existência tenha um fim. Só sabemos que a natureza fez desse o nosso destino e assim o é.

Respeito culturas e religiões e suas maneiras de encarar idas e vindas a esse mundo. Culturas que fazem da morte um final para nossa história. Eu creio na morte como parte da vida. Como passagem deste para um lugar mais evoluído. Uma vírgula.


*Essa foi mais uma reflexão sobre Frankenstein. Para entender melhor, leia. Recomendo.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Somos Frankensteins

Tive uma das melhores experiências da minha vida. Conheci a incrível e triste história de Frankenstein. Não o monstro verde com grandes parafusos na cabeça da minha imaginação e dos quadrinhos, mas o Frankenstein de Mary Shelley. No caso, o Frankenstein cinematográfico de Kenneth Branagh. Saí correndo e desesperada não de medo, mas atrás do livro. Nunca corri tanto atrás de um livro. Não encontrei. Sequer os vendedores da livraria sabem que existe um Frankenstein além das histórias em quadrinhos. Mas enfim, recomendo o filme. Para os não preguiçosos, leiam!

Frankenstein (que não se chama Frankenstein e, na realidade, nem nome tem) não é monstro. É humano. Humano um pouco diferente, diga-se de passagem, mas humano. Nasceu de forma peculiar. Um homem criado por um homem a partir de muitos homens. É o que é Frankenstein. Tem todas as características de um homem recém nascido (ou recém criado). Digo isso porque, assim como os homens nascem e não aprendem nada, mas resgatam o conhecimento do “mundo das idéias”, nosso humano não tão humano herdou a inteligência de sua matéria-prima e relembra suas muitas capacidades.

Mas sua personalidade não se resume a isso. Ao longo da trama percebi que mesmo Frankenstein é o produto do meio em que vive. Nós somos produtos do meio em que vivemos. Frankenstein recebeu características de muitos, mas não era esses muitos. Era único. E era bom. Ajudou pessoas até ser tido por monstro e retaliado. Fatores bastantes para aflorar péssimos sentimentos de qualquer um.

Somos Frankensteins. Nascemos de muitos. Somos resultados de características infinitas. Mas, como Frankenstein, não são elas as determinantes do nosso eu. Usamos aquilo que nos é dado da maneira que nos convém, da maneira que o mundo nos exige. Nas palavras do próprio, “tenho amor em mim que nem pode imaginar, e fúria, que nem pode imaginar”. Temos também. Usamos o que melhor nos couber.


05/07/2007 - Encontei o livro num sebo! Disponível para empréstimos.