sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Por um ano diferente

2008 há de ser diferente. Já que todos dizem que deve ser, óquei!, há de ser. Entendi, na minha mais simplória interpretação dos colóquios, escritos ou falados, dessa época do ano, que de nada vale o que foi, só o que será.

A começar, eu juro, juro mesmo, não fazer a listinha de todos os anos. Listinhas aquelas que servem não para um bom ano, mas para um péssimo fim de ano. Listinhas só são úteis para chegarmos à simples conclusão do quanto somos bobos e que jamais cumpriremos metade do que escrevemos. A começar, 2008 não terá listinhas!

Depois de não fazer listinhas, também não farei regime, nem intercâmbio, nem... Na verdade não farei nada, já que nada estará na listinha e, portanto, nada terei de cumprir. Não precisarei ler mais, nem ser mais solidária, nem mais estudiosa, já que tudo será diferente... e não haverá registros.

Em 2008 vou dizer adeus aos preceitos e princípios. Não serei organizada, não serei correta. Na verdade, acho que não serei nada! Já que nada registrarei. Talvez não queira fazer aniversário, não queira dar oi, não queira nem comer. Um adeus às regras! Um adeus ao que foi bom, embora passado.

No ano que adentrará, não vou me apaixonar, já que será um ano diferente de todos. Não vou abraçar, não vou sorrir, nem serei responsável. Também não vou gostar do que faço, do que estudo e deixar pra lá essa coisa de otimismo. Talvez eu também não queira existir, nunca se sabe...

Vou fazer tudo diferente do que até hoje fiz. Tudo de cabeça pra baixo, pra não repetir 2007. Vou dizer pra mim mesma que 2007 não foi um bom ano, e que não alcancei não o da listinha, mas coisas ainda melhores.

Também não farei coisas novas, para que não me arrisque a errar. E não seguirei nada do que disse ou pensei até hoje (eu disse NADA!).

Também não falarei a palavra não. Não não não! Juro que não falarei!

E, repito, não farei essa bobagem de listinha...


Pensei em muito a escrever para desejar todas aquelas coisas boas para mais um início de ano que, embora alguns não acreditem, reinicia tudo. Reinicia desejos, votos, listas! Além de reforçar. Reforça amizades, amores, desejos e listas também! Mas li tanta coisa, gostei de tanta coisa, que não me atrevi ao trivial, e me rebelei (um dos itens da minha lista: a rebeldia!... ei! eu disse lista?)

Uma das coisas que li e gostei, e que gostaria de eu ter escrito, e que, é uma promessa de Ano Novo!, eu ainda escreverei tão bom quanto, é um texto do David Coimbra, que, faça um bem para se fim de ano e comece bem o próximo: leia! (aqui)
Um Ano Novo maravilhoso e cheio de clichês a todos!

"Neste fim de ano, o que desejo a todos é isso, que o passo seja certo, que a palavra seja macia, que o gole valha a pena, que o perdão seja pedido. E concedido." (David Coimbra)


[Atualmente, atribuindo a boa leitura a textos alheios, já que aqui a coisa tá feia... Mas em 2008 prometo escrever melhor. Tá na lista! :D]





quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Cada coisa em seu lugar

Prevejo meu futuro. No meu casamento, uma amiga fará um discurso no qual enfatizará: "ela é um amor de pessoa, muito dedicada e bábábá... mas é chata de tão organizada". Óquei, a parte do "chata" fica por conta. Mas o "organizada" vai sempre imperar. Em algum amigo secreto, em algum Natal, em algum lugar do mundo, há de se pedir: "uma palavra-chave sobre o seu amigo". E o que dirão eu já sei.

Eu me definiria diferente, e assim diria: "praticidade". Eu sou prática, e nada além. As coisas no lugar não passam de um meio de instituir a organização sobre a bagunça. Organizar por fora, numa tentativa de organizar dentro.

Gabriel García Márquez, que, não fosse organizado não seria quem é, escreveu*, sob seu alterego, o que explicarei quando do tal amigo secreto – aquele da palavra-chave:



"Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem da minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir ás minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio".



* Em Memória de Minhas Putas Tristes.



quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Quem acredita em Noel?

Na correria da minha primeira semana de férias – sim, eu disse correria – resolvi ceder alguns minutos do sagrado almoço à curiosidade. Seria hipócrita se disesse que minha ida à sede dos Correios era a mais pura intenção de boa moça. Fui pra ajudar, também; mas fui mesmo “dar uma conferida”, no meu mais alto grau de curiosidade jornalística.

As muitas cartas ainda não atendidas, no último dia em que estariam ali, me despertaram um desejo imediato de ser Papai Noel ou, em último caso, ser rica. Consolada em não ser nem um nem outro, li e reli “Querido Papai Noel” em letrinhas tremidas. Peguei uma carta na medida do meu bolso e do meu tempo, e assim dizia:

Senhor Papai Noel sou 1 menino de 3 anos. Moro com minha avó que é papeleira. E é viúva. Papai Noel será que o senhor pode me dar uma roupa e calçado (aqui, um Ç riscado sobre o S) e se possível uma cesta de comida pois se for atendido fico muito agradecido e feliz. Meu nome é Enrique moro Vila Armonia (número-tal, rua-tal).” (sic)

Não fosse o orgulho e a vaidade, uma lágrima teria manchado aquelas palavras escritas com tamanho esforço e vontade. E senti vergonha. Senti vergonha da minha falta de esforço, da minha falta de vontade. Deixei pra última hora e, por isso, só poderei ser Papai Noel pro Enrique. Pena o Enrique não saber que isso é recíproco.




Estava no e-mail que recebi da Liza:

Na vida a gente passa por três fases
- A primeira quando acreditamos no Papai Noel;
- A segunda quando não acreditamos;
- A terceira quando somos o Papai Noel!




terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Uma Janela para o Futuro

Alta definição. Interatividade. E mais um montão de coisinhas que a gente não sabe pra que serve. Não, não falo da vida. Falo da TV Digital mesmo. O futuro, a evolução do homem chegando às nossas casas! Impressionante... A tal TV Digital só não é perfeita porque ainda não busca a cervejinha gelada. A imagem é perfeita, “como se estivéssemos olhando pela janela”, foi o que disseram no jornal.


Pois, então. Pensei que a TV era um meio de informação, entretenimento, para momentos de ócio. Riam de mim. Sou ingênua. Aquele aparelho em cima da estante da minha sala, quem diria!, é muito mais do que parece. É nela, então, que enxergamos e interagimos com o mundo? É nela que conhecemos a realidade? Pensei que fosse por aquele buraco no qual encaixaram um vidro.


Nossas janelas, agora, não servirão mais para ver passantes e dar “olás”. Aliás, para que sairmos de casa? A janela em cima da estante já mostra tudo. Mostra com mais detalhes a careca do Romário e as rugas da Glória Maria (que vai gastar mais com maquiagem, coitada). Fora a interatividade. Só com ela " vai ter diálogo", disse a família Nascimento. É a realidade ao alcance do controle remoto (e ai dele que estrague!).


Alguém ainda se debruça na janela para ver quem passa? Exceto a senhorinha que o faz desde a era da não-televisão, não – e olhe lá. Já que nossas janelas estão fechadas a mais não poder para evitar assaltos, vamos à janela em frente ao sofá. Na janela do passado vê-se mazelas, vê-se sofrimento e dor. É feio. Faz-se melhor ver – em alta definição – o mundo colorido da novela das oito e, credo!, as rugas da Glória.


Não condeno. Também não gosto de ver a vila sob minha janela todas as manhãs, mas vejo. Também, creio, janelas com grades não devem oferecer tão boa vista. É... a janela digital é mais segura - e pode ser admirada do conforto do sofá. Muito adequado...


sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

No português é tudo igual

Em blockbusters a gente até nem liga mais. É normal ligar a TV chuviscada – ainda não digital e não interativa, portanto, só opcional no liga-desliga – nas segundas à noite e ouvir as mesmas vozes. Já não ligo. A Julia Roberts fala minha língua vernácula igual à Meg Ryan? Óquei, é filme dublado.

Eu devia ter-me abstido, no entanto, de ligar a TV naquela quinta à noite quando, feliz da vida, ouvira anunciar um de meus filmes preferidos e, ironicamente, francês. Não era um blockbuster, mas uma obra-prima. E obras primas são feitas para serem apreciadas em sua íntegra beleza. Nada de traduções. Como a um quadro que se olha e se interpreta a seu bel prazer e, como quisessem estragar seu encanto, um guia lhe explica o que o “autor quis dizer”. O autor... sei...

Só sei que não devia ter ligado a TV e, assim, não teria ouvido Audrey Tautou falando mais ou menos como uma “queridinha da América”. Seria engraçado, não fosse decepcionante. Os cenários eram os mesmos, as cores eram as mesmas, os fantásticos personagens eram os mesmos... mas não eram. Foi-se tudo o que outrora fora. Era simplesmente um filme americano em português. Todo o encanto perdido pela falta do tal mot just balzaquiano. Por um excesso de letras desnecessárias que ali estão apenas para que preencham um espaço vazio e que a boca não se mexa sozinha.

O mesmo acontece com os livros, mas nisso há de ter mais tato – e saber a língua-mãe do autor. Eu ainda não tenho.
Não sei... só sei que tive dó de quem assistia ao filme pela primeira vez e não teve, nem por um momento, o gostinho que eu tive... até aquela quinta à noite.