terça-feira, 19 de maio de 2009

Buenos Aires, 2 de abril de 2009.

Aprendi a ignorar o tempo.
Desconheço se, nesse ou noutro espaço de vida, o ar que me entra será impuro e insuficiente. Importa-me agora (e não me importava ontem) que eu jamais tenha respirado com tanta tranqüilidade, ao passo que me afogo num brusco vendaval. Que cada pedacinho dos ares de outono – porque ares de outono tem essa leveza nostálgica – siga recorrendo essa matéria e alimentando esse espírito. Espírito que, graças ao ignorado tempo, sabe que deve submergir, vencendo a mão que lhe mantém sob a água.

Aprendi a ignorar a distância.
Não sei se vou estar longe ou perto. Mas já sou indiferente. Corri o mundo sem sair daqui e já sai daqui para o mundo, e não posso dizer qual experiência me doeu mais de prazer. Viajei horas por ideais e por sentimentos, e me dei conta que é bom estar lá, mas que estar cá nem sempre muda ideais e sentimentos. Só a alma deve estar onde eu queira, porque aprendi a ignorar esse materialismo estático.

Nesse instante e nesse lugar, onde e quando esteja, saberei ignorar o futuro e o espaço que me separam da vontade. Lembrar-me-ei que tempo e distância são irrelevantes. E que só sei de amor.