sexta-feira, 25 de julho de 2008

Pequeno Tributo à Esperança

Hoje o dia nasceu mais triste pra mim. Peço desculpas àqueles que há tempos me pedem novos escritos e esperam notícias de uma aventura em terras portenhas. Mas eu hoje acordei triste.

Há anos quase incontáveis, quando Buenos Aires sequer pensava em acolher-me, nasceu Esperança. Com ela, também nasceram admiradores. Novas vidas que brotaram a partir de novos pensamentos. Uma perfeita mistura de idéias revolucionárias e sentimentos conservadores. Porque Esperança era, até a manhã de hoje, sinônimo de vanguarda, de alegria e de brilhantismo. Quem conheceu Esperança Keil Fuentefria, há-de sempre recordar qualidades.

Mesmo com as adversidades da vida – que lhe foram muitas – não perdeu a alegria e a claridade da mente. Até a última semana de vida (quando a vi pela última vez) bem sabia o que queria e o que dizia, embora estivesse com o corpo magro ainda mais magro, e os olhos claros talvez mais cansados de viver. Não gostava de “gente velha”, e talvez isso lhe tenha salvado de envelhecer. Porque Esperança nunca foi velha, a despeito de seus cem anos.

Meu dia amanheceu triste porque descobri que não mais a farei feliz com o cartão postal que lhe enviaria, para lembrar-lhe das ruas portenhas de que tanto gostava. Fiquei triste porque não ouvirei suas incansáveis histórias e seus agradecimentos quase chorosos às visitas que recebia. Chorei por descobrir, assim por um baque, que as coisas boas não são eternas.

Ao mesmo tempo, fiquei feliz porque sei que ela se foi feliz, embora o que é Esperança tenha ficado e ficará sempre entre os que um dia a conheceram. Pois, como disse minha mãe para me consolar (já que não podia me abraçar), “ela cumpriu muito bem a sua missão e deixou em nós uma parte muito boa dela”.

Esperança. Hoje, nos dias em que essa palavra me é cada vez mais presente, sinto que não a perdi. Continuo a acreditar que é a última que se vai, embora ainda creia que seu corpo deveria ser imortal, que suas palavras deveriam ser eternamente ouvidas, que a Esperança centenária, assim como o sentimento homônimo, não deveria ter fim.

Portanto, só o que posso dizer aos amigos que esperam por notícias minhas é: nessa hora, eu queria estar em casa.