sábado, 30 de agosto de 2008

“Saudade é um clichê”...

... eu disse pro Samir.

Assim, me dei conta de que não escrevo porque meus pensamentos são agora clichês. Porque tudo o que penso é saudade.

O Samir contestou que não. Que saudade é sentimento. Sentimento clichê, porque todo mundo tem, afinal. Coisa clichê é coisa que todo mundo tem, que todo mundo sente, que todo mundo diz.

Bom, ao menos falantes losófonos são clichês, os únicos que sentem saudade nessa superfície tão grande e tão propensa ao sentimento. Os outros sentem falta, eu disse. O que nem de perto é o mesmo.

“E tu, sente o quê?”. Eu sinto saudade. Saudade grande, daquela bem brasileira. Porque, embora eu já confunda um pouco as língua ibéricas, em espanhol palavra nenhuma consegue traduzir o que sinto.

E, sim. Pra que tudo faça sentido, esse texto é clichê. Afinal, eu sinto saudade.


... e foi assim:

Luana diz:
só penso clichês ultimamente

Luana diz:
q coisa horrível

Luana diz:
o q eu faço?

Samir diz:
ai luana, tbm não há drama

Samir diz:
a vida nao deixa de ser um grande clichê

Luana diz:
não é drama

Luana diz:
é q to pensando em como começar a matéria

Luana diz:
só penso clichês

Luana diz:
não atualizo o blog pq só penso clichês

Luana diz:
acho q é a saudade d casa

Luana diz:
saudade é clichê

Samir diz:
ahahaha

Samir diz:
saudade é sentimento

Luana diz:
sentimento clichê

Luana diz:
pq todo mundo tem

Luana diz:
e isso dá texto

Samir diz:
mas só brasileiro sabe falar direito!

Luana diz:
só brasileiro sente saudade

Samir diz:
ohhh

Samir diz:
q amor

Luana diz:
é... falta e saudade não é a mesma coisa

Samir diz:
nao mesmo

Samir diz:
tu sente o que?

Luana diz:
saudade, ué

Luana diz:
sou brasileira

Luana diz:
embora já confunda um pouco o português com o espanhol

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Amanhecendo em Buenos Aires

O sol apareceu, embora eu só o tenha visto horas depois.

Quando desembarco na rua pela porta bordô da Calle Constitución, os pés parecem tocar num oceano gélido e o corpo adentra aquilo que se sabe ser dia, mas que ainda não amanheceu. São sete da manhã. E me vou melancólida, fria e com frio.

Quando enfim amanheceu, e meu corpo estava dentro de salas aquecidas artificialmente da Universidade, o sol pôs-se lá fora. Descobri que não era forte concorrente ao frio do inverno, mas, embora não aquecesse tanto o corpo, esquentou surpreendentemente a alma. Porque o sol tem dessas coisas, me parece. Um incrível sei-lá-o-quê que merece odes e devoções.

Durante, pelo menos, 16 dias, o sol deve ter somado não mais que ligeiras horas de exibição. E eu, contrariando a lógica de quem faz as escolhas que fiz, somei não mais que alguns poucos minutos de exaltação. Aquela vontade talvez se tenha misturado à saudade e ao medo e me senti, por 16 dias, um dia fechado. Sem sol.

Quando senti sob o pé a superfície mais quente e o dia passou a ser, enfim, dia, comecei a recuperar o fôlego. Começar já é um bom começo, afinal. A respiração se aquietou enquanto o corpo fez o exato inverso, embora eu tenha demorado a perceber.

O relógio biológico desajustado me fez ficar em casa no primeiro sol da minha nova vida. Mas aqui dentro está tudo bem. Tenho sol na minha janela e parece estar tudo mais claro.