domingo, 26 de agosto de 2007

Vou estar estando

Sabe quando um acontecimento se repete muitas vezes e nunca sabemos como proceder? Mas e sabe, pior ainda, quando você enfim descobre como proceder e o momento para o qual você está preparado não mais acontece? Pois eu sei. Esperei, esperei, e ele afinal veio.

Foi quando, de súbito, o telefone tocou.

- Olá, dona Luana. Aqui é do banco M...

“Ai, céus!”, pensei. E o carioquês mixto à agudez prosseguiu.

- A senhora foi sorrrteada e vai extar recebendo uma supervantagem do nosso banco. Baxta a senhora etcétera etcétere tal e nós vamos extar lhe enviando um superrrcarrrtão interrrnacional PLUS.

Taí! Se eu pudesse mudar uma só coisa no mundo, mudaria o telemarketing e seu venerado gerundismo. Não culpo as pobres moçoilas cariocas que me tentam com promoções furadas e erros lingüísticos. Como padres (perdão, Senhor!), elas devem participar das aulas preparatórias "Português Aplicado ao Telemarketing".

Mas enfim, pensei: “É agora!”. E aquele sentimentozinho (bem pequeninho mesmo, juro!) de vingança me encheu a alma. Arregacei as mangas e mandei:

- Olha... no momento não vou estar aceitando. Talvez vá estar considerando quando a senhora estiver aprendendo a estar falando português. No mais: não, obrigada!

Ai! Que alívio!


(*) Estariam meus posts virando Bosts?

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

O que [não] é jornalismo

“Não! Não quero aparecer na TV”. Eis a resposta sucessora à “jornalismo” (que sucede “o que estudas?”). Cansada de ouvir abobrinhas verdes a respeito da mais curiosa e nebulosa das profissões, resolvi amadurecê-las um pouco aos mais leigos. Àqueles cujo conhecimento jornalístico não transpõe o Jornal Nacional.


Para começar, estuda-se mais para ser jornalista do que “a arte de segurar o microfone”. Elabora-se a notícia, pesquisa-se, entrevista-se, produz-se, edita-se... enfim, trabalha-SE! Embora não pareça que a Patrícia Poeta faça tudo isso, sim, ela faz. A gente também estuda na faculdade, e lê (muito!), e trabalha, e pesquisa, e entrevista... ufa!, e também respira, quando sobra tempo. Além disso, estudante de jornalismo é ensinado a pensar, mais do que mexer em FinalCut, Photoshop e PageMaker. E disso há provas. Nossa opinião é sempre a mais aguardada num colóquio cabeça durante um churrasco, mesmo que estejamos no primeiro mês de faculdade. Porque somos sempre "o jornalista da família".

Lição número dois: não alimentamos (não todos) a pretensão de ganhar milhões fazendo megarreportagens para o Fantástico. Nem viajar o mundo aos sessenta fazendo matérias sobre as ostras famintas da Patagônia. Eu, pelo menos, quero ter uma família normal e netinhos aos sessenta e, mesmo assim, ainda ser jornalista. Porque todos os jornalistas não cabem na redação global ou no "grupo RBS", que, embora tenha cinqüenta anos, não tem coração de mãe. Os jornalistas estão nas revistas, na web, nas assessorias de imprensa. Mas os competentes, é claro. Porque você vai encontrar algum por aí vendendo bala e vai dizer "não tem mercado". Mas eu conheço advogado "vendendo bala".

E o mais importante: jornalista tem diploma! Se não tem, sinto, mas não é jornalista. Caso fosse assim, minha mãe poderia dizer-se médica e meu pai, filósofo. E os próprios jornalistas poderiam exercer a economia, a educação física, dependendo de sua especialização. Claro, alguns não a tem. São os que sabem de tudo um pouco (e muito de nada), mas estudaram para tratar com categoria desse todo.

Formadores de opinião, exercemos a profissão mais bonita, mais compensadora, diria o mestre Chelkanoff. Somos a profissão do futuro! E todos concordariam, se a conhecessem como conhecemos. Mas vamos deixar assim. Vai que eles descobrem...


sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Os Gigantes (à amiga Ana)

Por vezes, deparamo-nos com pessoas grandes (muito grandes!), as quais denomino gigantes. Todos conhecemos um, ou vários, mas alguns não os percebem. Porque, na verdade, eles são discretos e bondosos, embora lendariamente não o sejam. Quando os reconhecem, alguns temem sua grandeza, afinal, sentem-se pequeninos e insignificantes. Mas os gigantes sequer sabem que o são, e nós, meros mortais, sempre sabemos.

Esses dias, reconheci um (ou uma). Pois, às vezes, não os conhecemos, mas os descobrimos. O meu (A minhA) estava ao meu lado. Eles costumam esconder sua grandeza bem escondidinha, são humildes. Mas quando nós, os pequeninos, precisamos de um empurrãozinho horizontal, desvendamos seu segredo.

Os gigantes têm inteligência e coração proporcionais à grandeza. Os enormes problemas lhes parecem medíocres. As pessoas baixas lhes parecem ainda menores. De fato, sequer lhes percebem, pois sua superioridade os impede. Casualmente, tropeçam no caminho, pois não enxergam pedras por onde andam. Mas não caem. Continuam sua marcha.

Não sabia o que sentir diante de meu Golias quando o vi. Sabia-se frágil, e por isso se fazia forte. Admirei sua grandeza, e quedei-me sob a dúbia situação de me sentir a mais sortuda criatura, ou a mais ínfima. Decidi-me pela primeira, pois, olhando para cima, é mais fácil crescer.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Ignoto-pseudo-inimigo

Humanismo e Cultura Religiosa. Mais um nome pomposo para uma cadeira pomposa da pomposa Universidade. Daquelas aulas nas quais entramos prontos para sair. Na qual o relógio parece atrair constantemente os olhos, como a um imã. Coisas obrigatórias são sempre ruins, quanto mais quando se distanciam tanto dos nossos objetivos. Aparentemente.

Descobri que Humanismo e Cultura Religiosa (vamos resumir, ok? Religião!) não chega a ser de todo mal, assim como inúmeras outras chatices a serem estudadas. Ou a serem vividas. Descobri que aquelas coisas aparentemente ruins podem ser boas. E nem sempre se distanciam de nossas verdades.

Segundo meu colega, “é preciso conhecer o inimigo para lutar contra ele” (frase proferida na própria aula de ´Humanismo e blá blá blá`. ). Não, a religião não é minha inimiga, que fique bem claro! Mas também não se caracteriza como grande amiga. Confesso que não sigo religiões e não pretendo seguir, embora respeite católicos, protestantes, judeus e tudo mais que vier. Mas, até minha não-crença (ou seja lá como isso se chama), deve-se basear em doutrinas, mesmo que elas sejam somente minhas.

Doutrinas, teses, contestações provêm de conhecimento. Há alguns meses, detestava berinjela. Mas só até experimentá-la. Se é que minha comparação é compreendida. Criticar a berinjela tem relação direta com criticar religião. O que diferencia, no meu caso, é a simpatia. Procuro conhecer e aceitar ambas como são, o que não significa que goste de ambas. Atualmente, gosto só da berinjela.

(*) Devaneios de um momento ocioso e oco durante o estágio.

domingo, 5 de agosto de 2007

Eternos Admiráveis

No cinema, na literatura, na televisão ou na música. Temos ídolos, isso é certo. Assistindo ao mestre Chaplin e seu admirável Führer Hynkel em O Grande Ditador, atribuí ainda mais importância a esses seres (quase) superiores. Estavam ali, configurados num só corpo, dois dos maiores ídolos históricos. Charles e Adolf. Cada qual em seu segmento, ambos num mesmo contexto. Cada um como ídolo em suas mais distintas definições.

Chaplin foi (e é) o grande do cinema. O que fazia pensar. Que fazia rir. O que ria do ídolo Hitler, O Grande de um país. O aspirante a Alexandre. O que não deixava pensar ou rir. Opostos, mas poderosos em igual conta. Aos seus idólatras, restaram heranças a escolher (e a pensar).

Os ídolos exercem poder. Os idólatras, deixam-se apoderar. Sem julgamentos negativos, que assim fique claro. Idolatrar é bom, desde que em doses homeopáticas e conscientes. Idolatrar sem exageros. Não saber o limite entre a razão e a paixão foi o grande erro dos idólatras de Werther, o melancólico personagem de Goethe (sim, idolatra-se também personagens). Ou alguns fãs de filmes de ação. Morrer ou matar, respectivamente, não é idolatria. É falta de personalidade. É burrice.

Já tive centenas deles. Idolatrei cantores, atores, escritores. Idolatro personagens (nesse caso, o mérito é de seus autores). Idolatro Chaplin, Márquez, Buarque, de Assis, Guevara. Mas, mais do que ídolos intocáveis, tenho ídolos na vida.

Ídolos são pessoas a quem tributamos respeito e afeto. São pais, mães e tios (sobretudo os meus). São amigos e professores. Todos merecedores de altares e de orações. Pessoas que conheço não só pelo que fazem, mas pelo que são. Aplicam-se a todos os contextos, segmentos e definições. São eles eternos e incontestáveis.