terça-feira, 18 de setembro de 2007

Bovarysmo

Tenho o mau costume dos idealizadores. Desde o alvor da minha infância, fui levada pelos livros de história aos mundos mais longínquos da imaginação. Imagino uma terra lindamente arquitetada a meu bel-prazer. Concebo as situações a minha vontade e pessoas a meu gosto, embora esteja sempre próxima do abismo da desilusão.

Súbito, vejo-me imaginando histórias. Predicados, objetos, ou o simples sujeito sem complemento causam-me estranhas sensações, e me pego criando narrativas completas. Pessoas que nunca vi são para mim aquilo que imagino que sejam, e nada mais. Sei as causas e os fins, mesmo que sequer tenha vivenciado os meios. Sei o pretérito e o futuro no meu mundo.

Quando pequena, queria que tudo fosse do meu jeito. E meu mundo wanna be era primoroso. Tudo exato e colorido. Todos diziam 'bons dias' e 'boas noites'. Todas as palavras eram belas. Não havia abóbora nem a cor roxa. Não existia dinheiro, pois era ele o causador de todo o abjeto. Eu seria eternamente criança e meus pais, eternos.
Quando um pouco menos verde, com a cabeça no travesseiro eu vivia uma linda história de amor com direito a cavalo branco. Eu viajava e tinha amigos até do Japão. Eu sabia mais que o refrão de Águas de Março e entendia o 2001 de Kubrick. Eu tinha lido todos os livros e acreditava em todas as pessoas, porque mesmo os políticos eram confiáveis. Conhecia-se a definição de respeito e pessoas eram mais relevantes que dinheiro. Não havia desentendimentos por convicção religiosa, política ou econômica. Nessa terra fantástica, eu entendia a mente humana...

Fui longe... e caí daquele abismo. Um dia me senti estrangeira, forasteira na minha própria criação. E tentei criar um mundo não tão distante, no qual se chegasse mais rápido. Tirei daqui e dali, facilitei a chegada, mas ali não restou muito além da minha busca pelo que preenche o nanana da música.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

"Bom dia, Senhor F..."

Descobri-me refém de mais uma peculiaridade, e me estou auto-terapizando(?). Uma daquelas dificuldadezinhas nas relações interpessoais que todos temos e escondemos de outrem e de nós mesmos. Mais eis que eu revelo a minha. Não tenho medo! Arcarei com as conseqüências. Meu problema é um tanto peculiar, diria, e sempre tive vergonha de revelá-lo, embora saiba que muitos já o perceberam. Agora, então, nota-lo-ão todos. Eu... bem... não consigo pronunciar nomes. É, assim mesmo, bem esdrúxulo.

Já costumava me enquadrar no grupo das pessoas levemente esquisitas pelos mais variados motivos, mas sempre me descobria não tão singular. Por mais que pensemos o contrário, há sempre alguém que compartilha conosco a angústia de uma peculiaridade. Como falar com um portador de óculos escuros. NÃO CON-SI-GO! Minha mente altamente desconfiada imagina os mais variados lugares para os quais meu interlocutor estará olhando. Imagino que ele não me olha. Sei que ele não me olha!(!!!) Enfim, fiquei neurótica. Mas, ao menos aí, descobri não ser única.

Bem, voltando aos nomes, minha boca só os articula quando de certo grau de intimidade. Não que não saia um “ei, Fulano!”. Até aí consigo, mas só porque um “ei, psiu!” é por demais estranho. Já quando o diálogo parte para o “Oi, F...”, “Bom dia, C...”, “Obrigada, Senhor B...”, a coisa fica feia, e o bichinho da esquisitice me cutuca. Vejo a facilidade com que todos o fazem, e sinto-me ainda mais freqüentadora da seção dos excêntricos.

Quem dirá os apelidos! Ai céus! Apelidos pertencem ao grupo das mais extremas intimidades interpessoais. Eu não sei chamar por apelidos, assim como o fazem aquelas pessoas altamente carinhosas e queridinhas que nem passam pela fase do nome, vão direto ao apelido. Fico indignada com pseudoconhecidos que proferem meu apelido assim, logo de cara. Quem pensam que são? Critico-as. Invejo-as.

Eu gostaria, francamente, de falar nomes. Mesmo porque, nomes são muito bonitos e merecem ser pronunciados. Eu gosto deles por demais, não pense que não. Vou pedir, rezar pro papai do céu que me conceda tal privilégio. E se ele não me ouvir? Se não souber que lhe falo? Afinal, não sei pronunciar nomes...

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

O dia mítico

Eis o dia do aniversário. O dia mítico. O meu dia mítico. O meu dia.

Dias de aniversário deveriam ser só nossos. Nossos feriados. Penso que esse é um dia só meu no qual só eu sou especial. Seu melhor amigo pode estar de aniversário no seu dia. Não importa. Esse dia é seu. Azar o dele que tentou roubá-lo de você.

Queria ter mais dias míticos por ano. Mas, quem sabe?, eles não seriam tão especiais. Para mim, aniversários são como bolinhos de chuva. São feitos uma vez por ano, e isso faz deles tão especiais e aguardados.

Um viva ao dia mítico e aos bolinhos de chuva! Agora, (ambos) só no ano que vem...