quarta-feira, 27 de junho de 2007

O Maior Amor do Mundo

Outro dia, assisti ao O Maior Amor do Mundo, de Cacá Diegues. Ouvira falar muito sobre esse filme. Tinha muita vontade de vê-lo, pois não se tratava de um qualquer, mas de um longa-metragem de Diegues com o grande José Wilker. Recomendo. Mas serei sincera. O que realmente me levou a passar a noite de sábado em casa foi o título do filme. Pensei em várias possibilidades de enredo e de personagens para O Maior Amor do Mundo. Um título enigmático, uma produção surpreendente. Ele era tudo, menos o que tinha preconcebido na minha imaginação. Viajei, fui longe demais. E descobri o poder de um título.


Um título, um nome, tem uma força surpreendente sobre uma obra. Digo qualquer obra. De filmes a pessoas. Há quem não assista a um filme ou não leia um livro por causa do título. Existem títulos nada atraentes. Mas, se você consegue passar por cima deles, verá que são obras que valem uma boa análise. Hoje mesmo vi “O Quarteto Fantástico”. Não achei nada fantástico, mas é bom, apesar do preconceito que tinha. Acho o título horrível. Mas vale a pena ver.

Estendo essa força aos nomes de pessoas. Há nomes poderosos. Na faculdade, um dia nos deparamos com esse assunto. Quais de nós seriamos jornalistas de sucesso em função do nome. Sim! Nada de discussões sobre o potencial de cada um, sobre estágios, oportunidades. Mas uma discussão filosófica sobre nomes. Pensamos em quem teria um nome tão forte a ponto de concorrer com o David Coimbra* (eleito um nome digno de ser estampado na Zero Hora).

Alguns nomes são simples, mas o conjunto é avassalador. Eu, por exemplo, não gosto do meu conjunto. Não acho avassalador, apesar de gostar do individual. Queria mesmo ter o sobrenome de minhas avós. Seria, se assim fosse, da linhagem Meirelles-Preusler. Seria, não fosse o Duarte Fuentefria.


[Aposto que o título desse texto também remeteu os leitores a outro tema. Surpresa? Decepção? É o poder do título...]

*Roubo descarado da idéia da colega Giana Hahn.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Estréia

Como para tudo existe uma primeira vez, resolvi compartilhar minha primeira matéria em vídeo. Melhor dizendo, minha como colaboradora, pois devo tudo aos meus companheiros de reportagem (Francesca e Thales). Estou aprendendo com eles e entrando timidamente nesse meio mulltimídia.

No vídeo do programa CanalFam (do site Cyberfam) estão as duas matérias (ou melhor, uma e meia, pois com a segunda tivemos alguns problemas técnicos).

Caso seja, definitivamente, seduzida por esse novo meio (para mim) de ser repórter, publicarei as matérias aqui. Se depender da minha grande equipe de reportagem, acho que vou longe...

sábado, 16 de junho de 2007

Rotular é regredir.

Tudo na vida é inclassificável. Quero dizer, nada pode ser deveras “rotulado”. Cada dia me deparo com mais e mais estereótipos. Com patricinhas, emos, loucos... enfim. Rótulos de todos os tipos. Não acredito neles e não me encaixo em nenhum deles. O homem é um ser extremamente multifacetado, multiétnico, multicores, multitudo! Impossível classificar pessoas tão diferentes, por mais que pareçam iguais. Cabelos lambidos para o lado, roupas, tatuagens não definem personalidades. Pensava o contrário, até o dia em que resolvi usar allstar sem ser punk.

Reflito seguidamente sobre o tema: o que é ser louco? Louco é o rótulo mais conhecido, mais comum, e será sempre rótulo. Os emos sairão de moda, mas os loucos estarão sempre lá. Até onde vai o limite da razão? O que é ser normal? Tudo uma questão de padrões. De ideais de ser humano pré-estipulados por uma sociedade à procura da auto-aceitação.

Acho, no entanto, que essa tal auto-aceitação depende de aceitar o outro como diferente, com direito a ser diferente. Chato seria o mundo se fossemos todos iguais.

Penso num mundo muito mais interessante, mais colorido, com a multiplicidade. O mundo povoado por pessoas sem estilo, ou melhor, sem rótulo. Estilo sim! Estilo próprio, único. Estilo eu mesmo. O único rótulo que considero aceitável.

Academia Brasileira de quê?

Sempre me perguntei a respeito da utilidade da Academia Brasileira de Letras. Sinceramente, ainda não descobri. Mas estou certa de uma coisa. Se esta tem razão de existir, não existe de forma coerente. Digo isso por causa de uma comunidade no Orkut (hoje em dia, tudo vira comunidade no Orkut), cujo título é “Maurício de Sousa para a ABL”. Pensei: caramba! Que coerência! Quer alguém melhor para representar as letras no Brasil do que esse ícone? Maurício de Sousa representa a leitura brasileira. Melhor ainda! Representa a base, a raiz da leitura no Brasil. Falo de minha parte (e me arrisco a abranger a minha geração), aprendi a ler lendo a Turma da Mônica. Aprendi a gostar de ler lendo a Magali, o Cascão e o Cebolinha (sem esquecer do Louco, é claro).

Há quem vai me contestar, porque, afinal, “quadrinhos não é literatura”. Digo: é sim! É boa literatura. É literatura que ensina a ler e a viver. É literatura que desenvolve a criatividade. É muito mais literatura que alguns escritores que, após escreverem um livro (que sequer se ouviu falar) ganharam sua cadeira na Academia. Se fosse solicitada a listar cinco nomes de imortais da ABL, não chegaria ao terceiro. E aposto que a maioria das pessoas faria o mesmo. Não estou desmerecendo alguns deles que passaram ou ainda estão lá. Alguns são escritores maravilhosos, cuja admiração cultivo independente do número de sua cadeira.

Ouso, ainda, a incluir na minha lista de imortais acadêmicos o Ziraldo. Ziraldo também é literatura. Dia desses, me peguei lendo Flicts, a cor excluída que foge pra lua. É genial! Sem contar o periódico O Pasquim. Tenho quase todos os livros do Ziraldo em casa. Os que não tenho, perdi ou emprestei (e não mais voltaram). O que dizer então de Monteiro Lobato? Na certa, existe uma explicação pra um dos gênios da literatura recusar uma dentre as 40 cadeiras da ABL. “Mal comportado que sou, reconheço o meu lugar. O bom comportamento acadêmico lá de dentro me dá aflição”, disse em sua carta de recusa. Disse tudo.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Ululante

Adoro palavras. Palavras com significados bonitos, feios, interessantes. O único requisito é que pertençam à língua portuguesa. E que sejam palavras. Existem belas palavras. Basta perguntar a qualquer pessoa, intelectual ou não, letrada ou não, que logo uma avalanche de palavras são proferidas. Amor, amizade, afeto e, a mais pronunciada, a única, a brasileiríssima: saudade. Para mim não! Acho todas lindas, sem sombra de dúvida. Mas, se a Marília Gabriela me pedisse para dizer uma palavra, diria sem pestanejar: ULULANTE!

Não posso dizer ao certo o que significa. O Aurélio (Buarque de Hollanda, grande amigo nas horas de sufoco) diz se tratar de um adjetivo para “uivar”. Ulular é, portanto, uivar. Abstenho-me de significados. Só sei que a palavra é bonita, soa bem, sei lá!

Depois que descobri que Nelson Rodrigues também tinha alguma admiração pela palavra dos meus amores, passei a ama-la mais ainda, e ela não mais saiu da minha cabeça. “O Óbvio Ululante” é o nome de um dos livros do mestre Nelson. Se ele gosta, também gosto, principalmente depois de ter lido suas crônicas em “A Menina sem Estrela” (expressão da qual também gosto, mas essa já é uma extensão do assunto).

Chego a pensar, então, numa relação clara (ok! Talvez não tão clara assim) com a relatividade da beleza. Beleza é, sim, relativo, e não há quem me convença do contrário. O que é bonito para mim, pode não parecer aos outros. O mesmo digo do avesso. Amor, amizade, saudade, são belas. Para minha bisavó, por exemplo, palavra bonita era "merda", a qual deveria ser nome de gente, não palavrão. Mas, perto de mim, não ouse comparar nenhuma delas à charmosa ululante.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Muito além da física quântica

Nunca compreendi a física. Sempre fui uma “zero à esquerda” em ciências exatas. Nunca pude entender como esse ser estranho e milimetricamente (hoje, nanometricamente) calculado poderia influenciar minha vida. Sempre fui regida pelas ciências humanas e, sobretudo, pelas relações humanas. Mas dia desses pude comprovar, na prática, que tudo está interligado. Meus princípios emocionais estão intrinsecamente ligados aos princípios físicos, aos quais passei, a meu modo, a compreender.

Foi numa dessas Porto Alegres chuvosas, nas quais os rostos parecem um espelho do dia. Não via sorrisos. Não ouvia vozes. Mas uma voz veio falar comigo, perguntando se eu tinha uma passagem de ônibus. Um menino, cerca de quinze anos, conformado com minha resposta negativa à pergunta, puxou conversa comigo. O assunto? Os motoristas que jogavam água na calçada e a futura “tijolada” que um deles levaria como vingança. E eu, pacificadora como sempre, proferi aquele discurso de “não faça com os outros o que não gostaria que fizessem com você”. E assim, a conversa foi. E assim, ele me disse do desrespeito que sofria. Que para mim devia ser mais fácil, pois estudava, trabalhava. E assim, eu falei de sua possibilidade de crescimento e ele falou de sua possibilidade de estudar. Sim! Ele tinha possibilidade de estudar e utilizar aquela inteligência em projetos de vida, e não de vingança contra motoristas.

Mas eis o ponto onde quero chegar: a física quântica.

Muito temos ouvido falar desse outro bichinho estranho para cientistas humanos como eu. Filmes, livros, conversas e mais conversas. Moléculas do nosso corpo que interagem com moléculas externas e fazem daquilo que somos aquilo que o mundo é. E é sobre essa tal capacidade do ser humano de mudar sua vida, concretizando sua vontade por meio do pensamento, que quero falar. Não preciso acreditar e compreender esse tipo de estudo para ter certeza de uma coisa: são nossos atos que fazem o mundo. Isso vai muito além e é mais fácil de acreditar do que o fato de meu pensamento poder mudar meu futuro.

O menino que vi na rua provavelmente sequer ouviu falar em física quântica. Espero que um dia ouça, depois de ouvir meus conselhos de voltar aos estudos. Mas duvido que saiba o que é uma molécula ou que tenha parado para pensar sobre o sentido da existência humana. Mas há uma coisa que ele conhece melhor do que muitas pessoas: as relações humanas. Ele certamente sabe diferenciar tratamentos pessoais. Ele seguramente também não conhece o princípio da “ação e reação”, mas sabe reagir a um ato grosseiro, a um rosto virado. E foi minha ação de conversar com ele e trata-lo como um igual que pressupôs sua reação amigável e sua mudança de opinião em relação a “tijoladas” e estudos.

Assim como ele (o Wagner, como se apresentou para mim), inúmeros meninos somente reagem a atos de indiferença. Podemos não saber a dimensão de uma boa ação, de tratar seres humanos como iguais, como sabemos a dimensão de uma molécula. Mas, certamente, é muito maior do que pensa a nossa vã filosofia (ou vã ciência?). Digo novamente. Acredito nas relações humanas. Acredito nas experiências de vida e no poder de mudarmos o mundo a partir de um simples ato. E isso, me arrisco a dizer, ensina mais que a física. Quando fui embora, apertei a mão do Wagner. Ele, como reação, apertou a minha.