quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Desassossego

Às vezes penso que é tudo enganação, delírio de quem vive num corpo e não sabe mais que suposições do corpo alheio. Penso de canto que pode ser a realidade de Borges ou Eco, onde as horas e as coisas talvez não sejam mais que sonhos, onde o tempo é cíclico e a realidade não é mais que ilusão. Fugazes coisas de uma existência não real, que correm o risco de já não estarem aqui quando eu voltar, ou quando abrir de novo a janela de onde vejo. Pode ser que eu já não estivesse aqui, e essa fosse a verdadeira enganação do mundo. Mas, cartesianamente, se penso estou aqui, e então a realidade existe para mim, ainda que com lapsos de desconfiança entrecortados entre uma cena e outra. Se racionalizo e vejo que se tudo sempre existiu, que meu tempo não é mais que sobreposto sobre o tempo alheio, talvez eu não seja a única enganada nessa história. E então me toma de salto o conformismo, e a idéia de adaptação à falsa verdade parece me atrair. Porque, ao fim, importa sim o mistério das coisas. Pois que seria da vida sem o experimento sem resultado do mistério da vida?

Aí então me acomodo, e me conformo com o inquietante silêncio ruidoso dessa tal verdade.

2 comentários:

gustavo_ disse...

"fugazes coisas de uma existência não real, que correm o risco de já não estarem aqui quando eu voltar...". acho que compreendemos nossas reflexões. e acho que usamos uma paleta com tintas de cores bem semelhantes para pintá-las. e acho que frequentemente pintamos sobre os mesmos temas.

Tiago Medina disse...

bem vinda de volta!