terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Uma Janela para o Futuro

Alta definição. Interatividade. E mais um montão de coisinhas que a gente não sabe pra que serve. Não, não falo da vida. Falo da TV Digital mesmo. O futuro, a evolução do homem chegando às nossas casas! Impressionante... A tal TV Digital só não é perfeita porque ainda não busca a cervejinha gelada. A imagem é perfeita, “como se estivéssemos olhando pela janela”, foi o que disseram no jornal.


Pois, então. Pensei que a TV era um meio de informação, entretenimento, para momentos de ócio. Riam de mim. Sou ingênua. Aquele aparelho em cima da estante da minha sala, quem diria!, é muito mais do que parece. É nela, então, que enxergamos e interagimos com o mundo? É nela que conhecemos a realidade? Pensei que fosse por aquele buraco no qual encaixaram um vidro.


Nossas janelas, agora, não servirão mais para ver passantes e dar “olás”. Aliás, para que sairmos de casa? A janela em cima da estante já mostra tudo. Mostra com mais detalhes a careca do Romário e as rugas da Glória Maria (que vai gastar mais com maquiagem, coitada). Fora a interatividade. Só com ela " vai ter diálogo", disse a família Nascimento. É a realidade ao alcance do controle remoto (e ai dele que estrague!).


Alguém ainda se debruça na janela para ver quem passa? Exceto a senhorinha que o faz desde a era da não-televisão, não – e olhe lá. Já que nossas janelas estão fechadas a mais não poder para evitar assaltos, vamos à janela em frente ao sofá. Na janela do passado vê-se mazelas, vê-se sofrimento e dor. É feio. Faz-se melhor ver – em alta definição – o mundo colorido da novela das oito e, credo!, as rugas da Glória.


Não condeno. Também não gosto de ver a vila sob minha janela todas as manhãs, mas vejo. Também, creio, janelas com grades não devem oferecer tão boa vista. É... a janela digital é mais segura - e pode ser admirada do conforto do sofá. Muito adequado...


7 comentários:

Thales Barreto disse...

O mundo não é plano como a TV. Nem tão "perfeitinho" como nas novelas. As ruas ainda trazem dores e sonhos. A verdade que não devemos esquecer. Belo Texto... Bj. =D

Ana Bicca disse...

Acho que, para muitos, o fato de olhar pelo buraco de vidro já se tornou passado, antes ainda da tv digital. Não acho que a nova tecnologia seja por completo uma alienação. Acredito que a importância dada a ela é exagerada, já que, por enaquanto, de novo, só a alta definição. Para nós, ela talvez não seja um problema, pois quem gosta de verdade, vai continuar a olhar para as ruas. Temo pelas gerações futuras. E, talvez, seja este o grande papel dos pais: mostrar que os valores vão além as rugas da Glória...
acho importante debater estes assuntos, gostei do texto lu,
beijinho ;*

Luana Duarte Fuentefria disse...

Ah, com certeza começou antes, aninha. Essa alienação já existe.

Mas acho papética essa importância exagerada que tu falou. Como se não tivéssemos mais preocupações do que a careca do Romário (que rendeu reportagem especial no Fantástico!!! :o)

Samir Oliveira disse...

Ótimo texto Luana! Esse é um assunto muito complexo e devemos mesmo debatê-lo. A mídia não está dando vazão a esse debate. Ressalta apenas a alta definição e o "diálogo". Grandes piadas, isso sim. Mas não temos que nos preocupar.. o governo há de criar um "bolsa tv digital" para as famílias poderem comprar seus aparelhos de R$ 700,00 e continuar a ver o mundo pela janela limpa e perfeita das novelas

Rô Peixoto disse...

A verdade é que a verdade é o que jamais deveríamos esquecer!


Pergunta pro Samir se a televisão não traz mais diálogo? hahaha... Espero que ele ainda lembre da Valduza!

Beijos!

Ananda Etges disse...

Amei!!
Quanta ironia, hein Luana?
Ótimo texto!
Concordo contigo e com o Samir quando ele diz que o verdadeiro debate sobre a TV Digital não existe.
Beijo!

Anônimo disse...

Cara Luana, veja só: casualmente (é isto é a mais pura verdade verdadeira) dia desses sonhei que estava sendo sugado pela televisão, lentamente moído e triturado, embalado, e ainda por cima... globalmente etiquetado! E o pior de tudo é que do outro lado, deitados lado a lado, milhares de salsichas iguais a mim, dispostas em lindas, e iluminadas prateleiras. O sonho tomou ares de realidade quando senti uma lambida em meu rosto asalsichado. Parece mentira, mas não é, acordei com meu cachorro, o olhar fascinado, esperando a transformação completa de seu dono.
Desde então, mas só por precaução, olho televisão sozinho.

Um abraço,

A.
Mas pode me chamar de Nônimo!