segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Logo eu, que nem me estresso!

Gozo de alto poder de abstração, faculdade que me salva de qualquer tipo de aborrecimentos alheios. Encaixo-me em todas as designações pacíficas. Não peço briga, não me intrometo em briga de outrem, sequer levando a voz a decibéis muito elevados, para permanecer no meu estado zen. Mas descobri que, sim, existem coisas que fazem de mim um ser irracional e neurótico.

Motoristas de ônibus. Eis o que me faz perder a calma quase budista. No caso, foi um. Unzinho só fez de mim a pessoa mais injuriada por poucos e tão longos minutos. Um, somente um, motorista de coletivos porto-alegrenses conseguiu um milagre que nem a escola de samba instalada no fundo do meu prédio consegue.

Assim deu-se o fato. Foi num fim de tarde porto-alegrense (traduz-se: trinta graus Celsius e muito trânsito). Um cristão, após algumas horas de trabalho (a trinta Celsius) e poucas de sono, deseja nada além do que um banho e uma almofada bem fofinha para se recostar. Para tal prêmio de consolação, no entanto, algumas barreiras são necessárias. E então que chegamos ao famigerado ônibus.

Ônibus já são estressantes por si só, graças a sua incrível capacidade de lotar, aos vovôs (que sempre os tomam em horário de pico) e à longa espera por sua chegada. Mas, até aí, minha concentração quase budista me auxilia e me dá forças a repetir o sobe-desce quotidiano. Pois então, depois de vinte anos de passageira e muita história pra contar, cheguei ao cúmulo do absurdo de um motorista, cujo único e simples trabalho é acelerar, frear e, por vezes, sorrir, se recusar aos dois últimos itens. Não creio que alguém não tenha capacidade para fazer os três.

Então, foi assim. O funcionário, de quem reclamei chorosamente (e, eis meu problema: eu quase choro quando reclamo), reclamou por, simplesmente, ter que parar o coletivo, fonte de seu sustento. Outrora já reclamara dele por sua extraordinária incapacidade de pisar no freio, fato que me fez esperar mais alguns longuíssimos minutos por outro mais gentil. E isso se repetiu por três vezes. Na quarta tentativa, quando enfim ele parou, reclamou por tê-lo feito. Seu resmungo fez-me alçar meus decibéis a níveis nunca dantes por mim imaginados perante os quarenta e tantos passageiros.

Pensei, imediatamente, na imbecilidade de quem não dá valor a isso chamado emprego. De certo, não estava feliz o coitado, que trabalha durante o dia todo e ganha dinheiro. Realmente, ele tem direito de reclamar por fazer uma tarefa, quase nada importante no seu trabalho: a de parar. Eu só fiz ajudá-lo, pois. Liguei e - chorosamente - disse à empresa tudo aquilo que, por não ter saído completamente da minha calma budista, não atinei em dizer ao estressado a, pelo visto, estado permanente. O meu, ao menos, é efêmero. Bastou um banho e uma almofada bem fofinha pra me recostar.

E logo eu, que nem me estresso!


2 comentários:

Thales Barreto disse...

Genial!
Ótimo texto menina!
Vamos dizer que eu me estresso muito, os mais chegados sabem. A prefeitura queria melhorar o transporte com o "TRI" e acabou piorando ainda mais o seu precário serviço de transporte público. Demorado e saturado.

Parabéns mais uma vez pelo belo texto.

Ps.: Tu aguenta uma escola de samba nos teus ouvidos? Merece um prêmio! Eu não suportaria nem uma semana! Como tu consegue? De cursos de como manter a calma, SEMPRE! Irei fazer com certeza. =D
Bj Parabéns!

Samir Oliveira disse...

Luana! Muito bom o texto! Vim só dar uma passadinha rápida na internet, mas teu blog é parada obrigatória!!
ah, nem entra no meu, está estagnado (ainda) ehehehe.. mas prometo me esforçar e atualizar assim que nem o teu :)
bjoo saudades!!