quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Deliciosos Retratos

Adoro os cafés. E, de fato, não há algo em maior quantidade nessa cidade (finjamos, agora, que não há lixo nas calçadas). Não os cafés de beber, mas os de estar e de ver.

Sento-me em um, no qual descobri dois grandes prazeres. O primeiro, paezinhos de espinafre (aqui, consideremos os prazeres de uma vegetariana). O segundo, uma vitrine.

Em frente a uma grande janela eu olho para a rua. Seguindo a lógica da perspectiva, o objeto em exposição seria eu. Mas não. São eles. Porque eu observo. Eles são só eles caminhando na calçada.

Passam muitos perfis e alguns rostos de frente (e pensemos que eles seguem a lógica do objeto em exposição).

Passa um alemão que guarda a mão no bolso peitoral. Passa uma brasileira que fala sozinha ou talvez cante uma canção. Passa um gordo que bebe numa garrafa inversamente proporcional a si. Passa, passa, passa.

Como o tempo, passam rápido e não me dão tempo.

Jovens de branco com pinta de medicina. Um senhor de branco pintado de tinta. Passam tortos e direitos (porque os vejo de lado). Passam ritmos silenciosos e silêncios misteriosos.

Passam brabos, alegres, apáticos. Curiosos da minha vitrine.

Todos sonorizados pela música e pelas vozes daqui de dentro. E deliciados como café. Ou, melhor, como pães de espinafre.

4 comentários:

Anônimo disse...

Também gosto de observar as pessoas. Tento imaginar cada história de rostos anônimos que vejo nas ruas. É um exercício e tanto, isso.
Ah, e não tente me convencer que pãezinhos de espinafre são bons! hehe

beijos

Carol. SM. disse...

As histórias das janelas também sao ótimas. Sobretudo aqui em Buenos Aires, em que as janelas dizem tanto sobre quem as habita.
Janelas com flores
janelas verdes, amarelas e vermelhas
janelas com plantas verdes
com temperinhos
com bocejos e livros
com música
e janelas fantasiadas de
janelas tradicionais.

Mas as vitrines também sao ótimas, tudo diante dos olhos é uma vetrine, nao?
E considerando que as pessoas estao cada vez mais a venda, elas agora sao o produto...

Luanita, gosto muito do que tu escreve e agora eu sou uma pessoa que comenta!
hehe

querida, um beijo
e saravá San Telmo!

Carol

Eliane! disse...

Luana! e eu lendo teu primeiro parágrafo não me dei conta que estavas em Buenos Aires, garota. sim, sim, só estando lá para uma sensação dessas: cafés de estar e de ver.

sempre genial!

Samir Oliveira disse...

Buana, tu daria uma boa monografia de letras. teus últimos textos não são poesia, mas também não são prosa. São meio um, meio outro. tem trechos que são pura poesia, mas logo vem a prosa e traga o leitor para a continuidade.. ah, se eu fosse estudante de letras..

ps: paezinhos de ESPINAFRE? e os alfajores? e o conaprole!??? Ai, Buana..