quinta-feira, 14 de junho de 2007

Muito além da física quântica

Nunca compreendi a física. Sempre fui uma “zero à esquerda” em ciências exatas. Nunca pude entender como esse ser estranho e milimetricamente (hoje, nanometricamente) calculado poderia influenciar minha vida. Sempre fui regida pelas ciências humanas e, sobretudo, pelas relações humanas. Mas dia desses pude comprovar, na prática, que tudo está interligado. Meus princípios emocionais estão intrinsecamente ligados aos princípios físicos, aos quais passei, a meu modo, a compreender.

Foi numa dessas Porto Alegres chuvosas, nas quais os rostos parecem um espelho do dia. Não via sorrisos. Não ouvia vozes. Mas uma voz veio falar comigo, perguntando se eu tinha uma passagem de ônibus. Um menino, cerca de quinze anos, conformado com minha resposta negativa à pergunta, puxou conversa comigo. O assunto? Os motoristas que jogavam água na calçada e a futura “tijolada” que um deles levaria como vingança. E eu, pacificadora como sempre, proferi aquele discurso de “não faça com os outros o que não gostaria que fizessem com você”. E assim, a conversa foi. E assim, ele me disse do desrespeito que sofria. Que para mim devia ser mais fácil, pois estudava, trabalhava. E assim, eu falei de sua possibilidade de crescimento e ele falou de sua possibilidade de estudar. Sim! Ele tinha possibilidade de estudar e utilizar aquela inteligência em projetos de vida, e não de vingança contra motoristas.

Mas eis o ponto onde quero chegar: a física quântica.

Muito temos ouvido falar desse outro bichinho estranho para cientistas humanos como eu. Filmes, livros, conversas e mais conversas. Moléculas do nosso corpo que interagem com moléculas externas e fazem daquilo que somos aquilo que o mundo é. E é sobre essa tal capacidade do ser humano de mudar sua vida, concretizando sua vontade por meio do pensamento, que quero falar. Não preciso acreditar e compreender esse tipo de estudo para ter certeza de uma coisa: são nossos atos que fazem o mundo. Isso vai muito além e é mais fácil de acreditar do que o fato de meu pensamento poder mudar meu futuro.

O menino que vi na rua provavelmente sequer ouviu falar em física quântica. Espero que um dia ouça, depois de ouvir meus conselhos de voltar aos estudos. Mas duvido que saiba o que é uma molécula ou que tenha parado para pensar sobre o sentido da existência humana. Mas há uma coisa que ele conhece melhor do que muitas pessoas: as relações humanas. Ele certamente sabe diferenciar tratamentos pessoais. Ele seguramente também não conhece o princípio da “ação e reação”, mas sabe reagir a um ato grosseiro, a um rosto virado. E foi minha ação de conversar com ele e trata-lo como um igual que pressupôs sua reação amigável e sua mudança de opinião em relação a “tijoladas” e estudos.

Assim como ele (o Wagner, como se apresentou para mim), inúmeros meninos somente reagem a atos de indiferença. Podemos não saber a dimensão de uma boa ação, de tratar seres humanos como iguais, como sabemos a dimensão de uma molécula. Mas, certamente, é muito maior do que pensa a nossa vã filosofia (ou vã ciência?). Digo novamente. Acredito nas relações humanas. Acredito nas experiências de vida e no poder de mudarmos o mundo a partir de um simples ato. E isso, me arrisco a dizer, ensina mais que a física. Quando fui embora, apertei a mão do Wagner. Ele, como reação, apertou a minha.

10 comentários:

Unknown disse...

E assim nasce uma grande cronista!

Amiga parabéns, teu texto está ótimo....

Acredite sempre no teu potencial, no teu talento de sobra!

De quem te apoia sempre!
Raquel....

Thales Barreto disse...

Terei que repensar o Simulações...
Gostei mto... Parabéns... Vou colocar um link lá e passarei por aqui mais vezes. Bjos. =D

Samir Oliveira disse...

Luana! Nem sabia que tu tinha feito um blog.

Bah, muito bom o texto. Uma crônica muito boa. um relato. Adorei o final.

Teu blog já está listado no meu :)
bjs

Liza Mello disse...

SINCERAMENTE adorei! eu acho que o difícil não é ter uma boa sacada e sim, transformá-la em um texto de vários parágrafos... e vc conseguiu! parabéns!

vou adicionar o teu blog no meu!

Carolina Tavaniello P. de Morais disse...

E Luana entra no mundo dos blogs ;)
Final surpreendente. Isso é uma das coisas que faz um texto ser interessante. Faz o leitor pensar "que bom que eu li até o final".
Vou te adicionar nos meus links. Não sei se tu sabe mas também tenho um blog: http://carolinatavaniello.blogspot.com
Beijos

Unknown disse...

Amadaaa como estas escrevendo bem
estou orgulhosa de ti... mesmo tu sendo colorada =p
sempre q tiveres novidades avise-me
Besosss
:*****

Unknown disse...

Oi!
Gostei muito do seu texto e devo dizer que concordo com ele.
Tive uma experiência parecida. Só que antes de sorrir pro menino ( por volta dessa idade também) fui duro com ele. Aconteceu assim:
Eu estava andando pela orla em Fortaleza indo ao Mc Donald´s comprar um Top Suandae de doce de leite. Chegando perto do Mc, esse menino sujo e maltrapilho se aproximou com o braço extendido, com uma expressão no rosto de ser mau e disse: "Me dá dinheiro". Eu nem devia ter mto dinheiro, mas virei pra ele, "fechei a cara" e, aproveitando-me do meu tamanho, minha cor e meu sotaque eu disse "NÃO", pronto pra brigar quando reparei que ele não tinha uma arma de fogo no braço extendido. Ele se surpreendeu com minha reação e parou de vir pra cima de mim, apesar de já estar muito próximo. Só que eu vi que ele não tima realmente NADA a mão. Nem uma faquinha, vidro, nada! Então, severamente eu lhe disse: "Nem sabe pedir! Tem de saber pedir, não pode tentar intimidar as pessoas..." ele mudou a expressão e me surpreendi ao ver que ele me ouvia. Até soria qdo eu falava, e eu, não sei por que, gostei do menino. Disse pra ele assim: "Eu não deveria te dar nada, mas gostei de vc" e dei 1 real pra ele. Sei que não deveria, mas fiz. E quando fui a Fortaleza de novo, lembrei do menino. Passei de novo pelo ludar e ele se aproximou na mesma atitude. Dessa vez eu sorri e disse: "Cara, de novo? Já te falei que não é assim que se pede...". Ele então me disse: "Ah! Então vê se melhora assim 'O senhor poderia me dar dinheiro?'" Achei fantástico! Eu passei a gostar mais ainda do menino. E disse pra ele assim: "Dinheiro não vou te dar. Já errei te dando aquele dia, mas se quiser te pago um sorvete!" E paquei o sorvete pro menino e e fui embora. Fiquei pensando também sobre qual seria o futuro daquele menino, como deveria ser na casa dele, e lembrei que assim como e ainda pior que ele existem várias crianças e que isso é muito triste. Muita sorte são as que não se marginalizam. Passado já certo tempo, quando voltei a Fortaleza, passei no mesmo lugar que o menino ficava, e lá ele não estava. Fiquei triste por não vê-lo. MAs qdo eu atravessava a rua para ir de volta ao hotel, ouvi alguém atrás de mim falando e se aproximando. Era ele, de novo com o braço estendido, mas dessa vez com um largo sorriso e dizendo "Oi! Quanto tempo! Hoje não vou pedir dinheiro não! Essa é sua mulher? (se referindo a comissária que havia ido comigo)" Apertou minha mão e se despediu.
Eu adoro as ciências exatas! Não que eu fosse bom aluno ou que eu saiba muita coisa delas, mas elas me fascinam.
Se eu fosse um pouquinho melhor nas ciências exatas poderia te explicar matemáticamente, químicamente e físicamente o que aconteceu de outra forma. Porém, se eu fosse bom tanto nas exatas, quanto nas humanas, acho que teria escrito exatamente como você.
Bjs!

pola disse...

Fisica quantica é tao fascinante quanto as relações humanas entre si e com tudo que os cerca..
basta sairmos do estado entorpecente e acostumado que estamos.
Daí vive-se muito melhor e feliz..
eu acho né..
Imaginei cada cena do teu texto, ele ta muito bem escrito e tu é muito inteligente e eu tenho orgulho de ti, menina!
Meu xuxu, meu orgulho!

Unknown disse...

Arrisco me a dizer que ai está uma futura jornalista de muito sucesso!! Nunca gostei de ler blogs, mas tu tem estilo e um grande potencial! Já está entre meus favoritos!

Anônimo disse...

Antes de tudo, parabéns pelo seu blog e pelo seu texto. Escreve muito bem!
É muito bom saber que existem mais pessoas q acreditam no poder dos nossos pensamentos e que também não leva a física quântica como um 'bicho de sete cabeças'. Sim, porque todos nós a usamos no dia-a-dia, mas a maioria não tem consciência disso. Parabéns!