sábado, 3 de maio de 2008

Felicidade Relativa

Mais do que qualquer coisa, o grande mistério do mundo está na compreensão da felicidade alheia. O que é razão para seus prazeres insensatos não necessariamente é a outrem. Uma singular convenção diz, no entanto, que se você não seguir padrões, não há de ser feliz nunca. Por que a felicidade de todo mundo tem de ser igual, afinal?

Tudo deu-se numa dessas conversas de bar, nas quais sou participante passiva. Passivíssima, com o perdão do neo-superlativo. Sou grande apreciadora de conversas de bar, de escritório, de faculdade, de sarjeta. Contanto que se tratem de bons papos, lá estão meu bom ouvido e minha abençoada paciência. A boca, no entanto, engata por vezes, e timidamente, na primeira –- e volta logo ao ponto morto.

Um novo amigo teve a sorte, ou não, de conhecer minhas características de gente estranha ao mundo convencional. A pauta da noite, como já estou acostumada há mais de vinte anos, foi a minha vida de menina careta. “Eu não como carne”, foi o ponto de partida à discussão calorosa, seguida de um “também não bebo”. “Mas então tu não és feliz!”, foi o que me disseram. É o que me dizem há mais de vinte anos.

É de se pensar, óquei, se a pessoa que se conheceu há alguns minutos é ou não feliz sem o prazer das coisas que nos dão tanto prazer. Se (é o que eles dizem) é-se feliz sem ter no estômago um boi a altos níveis etílicos. Eu pensaria o mesmo de um ser incrivelmente peculiar que nunca tivesse provado o doce sabor da vida –- o chocolate, quero dizer. Mas eu lhes garanti: “sim, juro que sou feliz sem o boi ou a cevada”.

Há o que me faça rir e falar bobagem sem qualquer teor alcoólico. Ou o que satisfaça minha fome sem o sangue de outras espécies. Mas entendo perfeitamente quem precisa disso pra viver, assim como eu preciso do chocolate. E entendo perfeitamente –- e gosto também –- quem solta com facildade a língua em conversas de bar. Eu não consigo, mas ouvir, eu garanto, me dá uma felicidade inenarrável.

Existe gente feliz sem religião, assim como creio serem felizes os monges que passam os dias a rezar. Há quem seja feliz trabalhando ou fazendo nada a vida inteira. Há até quem diga que é feliz estudando matemática (nossa!). Só não creio que haja felicidade em quem não permite que outros o sejam.

Nada de bifes, cervejas ou verbosidade em bar. Tenho certeza que nada me faria mais feliz que uma boa companhia, a palavra final de um livro ou um banho de chuva. Além de ouvir. E só ouvir.

11 comentários:

Anônimo disse...

é isso aí: respeito à diversidade e a diferença.
saber ouvir é uma grande virtude. no próximo cálice de vinho, farei um brinde a ti.

Samir Oliveira disse...

"Eu juro que é melhor não ser um normal, se eu posso pensar que Deus sou eu"

Já dizia a octagenária Rita Lee

Anônimo disse...

Ah, pelo menos tu gosta de chocolate...

Thales Barreto disse...

Maldito dia sem internet Maldita NET e maldito temporal, dito isso...

Eu acabei de ler teu post e me lembrei de uma musica que gosto muito. Embora o artista seja taxado de ridiculo e muita gente não goste. O Pase usou essa musica numa aula dele como "exemplo". Não lembro direito do que, mas acho que ela faz algum sentido. E se encaixa com o texto, mesmo o Samir
tendo citado Rita Lee...

"Esses humanos que circulam
Pela cidade aí afora
Eu não aguento, eles querem me conquistar
Eu não aguento, eles querem me controlar
Querem me obrigar a ser do jeito que eles são
Cheios de certezas e vivendo de ilusão
Mas eu não sou nem quero ser igual a quem me diz
Que sendo igual eu posso ser feliz"

Supla - Humanos

Bjs e Parabéns por ser feliz... Tem gente que come carne, toma porres terríveis, é taxado de "normal"... E não é feliz... :)

Anônimo disse...

Não é fácil esta opção de não comer carne aqui no sul. O pior é de tudo é ter que justificá-la. Mais dificil será na Argentina... prepare-se!

Rô Peixoto disse...

Também prefiro ouvir a falar.

Uma conversa entre nós seria realmente complicada! hehe

Beijos!

Liza Mello disse...

sabe q essa hist do 'se vc não gosta de álcool não é feliz' eu tb ouvi durante uma boa parte da minha vida. e eu pensava como tu. mas, depois q eu comecei a beber, eu acho q eles tinham razão. não pelo alcool em si, mas porque beber significa ficar bêbado. e se deixar ficar bêbado significa se dar a chance de chutar o balde. e se dar essa chance é, pra mim, ser feliz.

ah, vai dizer q esse textinho não ficou legal? hehehe

Luana Duarte Fuentefria disse...

ficou, ficou, dona liza bebum das fameloucuras. hehe

mas certo que eu ficaria ainda mais chata bebum.

Carolina Tavaniello P. de Morais disse...

é.. se é pra ficar uma bêbada chata, por favor, não beba! hehehe
o que eu não entendo é como alguém não gosta de carne, mas entendo que se pode ser feliz sem ela!

Liza Mello disse...

senhorita luana!

a minha mãe lê o teu blog, REMEMBER?! olha o q tu diz de mim por aí... tsc tsc
hehehe

Luana Duarte Fuentefria disse...

ninguém mandou fazer declarações extremamente sobversivas, dona liza! hehe

mas não te preocupa, tua mãe já leu e até já comentou esse post. também temos a possibilidade de apagar tudo. hein? hein?